sexta-feira, 11 de março de 2016

Wiesel & Adelsberger: a fome

Eli Wiesel em 1943 (com 15 anos)
«Alguns dias depois, fecharam o gabinete do dentista, que tinha sido metido na prisão. Ia ser enforcado. Tinha-se descoberto que ele traficava os dentes de ouro dos detidos em seu proveito próprio. Não sentia qualquer piedade em relação a ele. Estava mesmo muito contente com o que lhe acontecera: salvara a minha coroa de ouro. Um dia, ela poderia ser-me útil para comprar alguma coisa, o pão, a vida. Já só me interessava pelo meu prato de sopa quotidiano, pelo meu bocado de pão meio duro. O pão, a sopa – eram a minha vida. Eu era um corpo. Talvez menos do que isso: era um estômago esfomeado. Só o estômago sentia a passagem do tempo.»

Elie Wiesel, Noite, Texto Editora, Porto, 2003, p. 60 (livro disponível na biblioteca da escola, na estante "Estudos do Holocausto/Shoá") 

Memórias da Dra. Lucie Adelsberger

«Aquele que conheceu a fome sabe que não se trata apenas de uma sensação animal, mas sim de um suplício que põe os nervos em franja, de uma agressão contra a totalidade da pessoa. A fome torna as pessoas más e altera o carácter. Muitas coisas quando observadas do exterior parecem, a todos os títulos, monstruosas; mas quando relativas aos detidos tornam-se compreensíveis, e até desculpáveis, se forem vistas à luz da fome.»

Citado em Lecomte, p. 125, Ensinar o Holocausto no Século XXI, Via Occidentallis, 2007 (livro disponível na biblioteca da escola, na estante "Estudos do Holocausto/Shoá")

"Terezín", foto de D. Blaufuks


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