terça-feira, 11 de outubro de 2016

Wislawa Szymborska

(...) o que motivou Szymborska terá sido o desejo de pensar, nos poemas, o que não está nas imagens, visto que elas são mudas. Isso é evidente em grade parte dos textos e, especialmente em dois, que abordam a questão da História. Um deles é «A primeira fotografia de Hitler», um poema espantoso no qual o tom chocarreiro e bem humorado das referências descritivas ao «bebezinho Adolfo Hitler (...) sublinha, por contraste irónico, a monstruosidade da personagem e da sua acção assassina e brutal.

Luís Filipe Parrado e «Descrever este voo e não acrescentar a última frase», Cão Celeste, nº 4, Novembro, 2013


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Paul Celan

ZURIQUE, NO HOTEL A CEGONHA

Para a Nelly Sachs

Falávamos do excesso, da
carência. Do Tu
e Contudo-Tu, do
turvo pela claridade, do
judaico, do
teu Deus.

Dis-
so.
No dia de uma ascensão, a 
catedral ficava acolá, vinha
com algum ouro sobre as águas.

Falávamos do teu Deus, eu falava
contra ele, eu
deixei o coração que possuía
ter esperança:
na
sua palavra suprema, agonizada, na sua
palavra quezilenta -

Teu olho fitou-me, desviou-se,
tua boca
seguiu o olho, eu escutei:

Nós
não sabemos mesmo, sabes,
nós
não sabemos mesmo
o que
importa.




Não Sabemos mesmo O Que Importa, Trad.
Gilda Lopes Encarnação, Relógio D' Água, 2014


«O Comboio do Luxemburgo»



Brevemente na Biblioteca da Escola
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domingo, 2 de outubro de 2016

Judith Herzberg

JERUSALÉM II
Aqui é como se tudo tivesse algo a dizer.
A sombra do eucalipto contra o muro branco
rutila como um código, um telegrama,
ou como as sombras de chamas sucessivas,
de um fogo distante mas persistente.
Se esta casa um dia voltar a ser arrasada
quem lá mora estará cansado de mais
para voltar a pôr pedra sobre pedra.

O que resta do dia, Trad. Ana Maria Carvalho, Cavalo de Ferro, 2008, p. 129