segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Paul Celan

ZURIQUE, NO HOTEL A CEGONHA

Para a Nelly Sachs

Falávamos do excesso, da
carência. Do Tu
e Contudo-Tu, do
turvo pela claridade, do
judaico, do
teu Deus.

Dis-
so.
No dia de uma ascensão, a 
catedral ficava acolá, vinha
com algum ouro sobre as águas.

Falávamos do teu Deus, eu falava
contra ele, eu
deixei o coração que possuía
ter esperança:
na
sua palavra suprema, agonizada, na sua
palavra quezilenta -

Teu olho fitou-me, desviou-se,
tua boca
seguiu o olho, eu escutei:

Nós
não sabemos mesmo, sabes,
nós
não sabemos mesmo
o que
importa.




Não Sabemos mesmo O Que Importa, Trad.
Gilda Lopes Encarnação, Relógio D' Água, 2014


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