quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Os homossexuais, as vítimas esquecidas do Holocausto

Para além dos judeus, alvo preferencial dos nazis, também foram vítimas deste regime outros grupos considerados como 'raças inferiores' ou 'parasitas', como é o caso dos ciganos, ou 'a-sociais', por exemplo, as prostitutas, as testemunhas de Jeová, os comunistas e restantes opositores ao regime, os homossexuais. Este último grupo é considerado o mais esquecido, tendo-lhe sido reconhecido o estatuto de vítimas, somente, décadas depois do fim da guerra.
Uma vez que se queria uma sociedade expurgada de toda a ameaça à suposta pureza da 'raça' germânica, foram os homossexuais alemães os principais visados pelo ódio e impulso de destruição nazi. Veja-se, abaixo transcrito, o discurso de Himmler (Quem é?), proferido a 18 de Fevereiro de 1937:

Se eu admitir que existem 1 ou 2 milhões de homossexuais, tal significará que 7%, 8% ou 10% dos homens são homossexuais. E, se a situação não for alterada, o nosso povo será destruído por essa doença contagiosa. A longo prazo, nenhum povo conseguiria resistir a tal perturbação da vida e do equilíbrio sexual [...] Um povo de raça pura que tenha poucas crianças é um povo que tem um pé na cova; dentro de 50 a 100 anos não terá qualquer significado e em duzentos a quinhentos anos extinguir-se-á [...] A homossexualidade reduz todos os resultados a zero e destrói qualquer sistema básico; destrói os próprios alicerces do Estado. Além disso, os homossexuais sofrem de uma doença mental. São fracos e cobardes em matérias fulcrais [...] Temos de compreender que, se este mal continuar a espalhar-se na Alemanha e se não formos capazes de o parar, acabará com a Alemanha. Será o fim do mundo germânico. (http://perso.wanadoo.fr/d-d.natanson)

No entanto, isso não significa que homossexuais de outros países, principalmente os anexados pela Alemanha, não tivessem sido perseguidos e deportados. Pierre Seel, originário da região francesa da Alsácia,  foi deportado, apenas com 17 anos, para o campo de Schirmeck, em resultado de uma denúncia de roubo de um relógio que o próprio fez à polícia. O facto do local do roubo estar identificado como zona de frequência homossexual, foi o suficiente para que Seel fosse incluído na lista de homossexuais. No livro que escreveu, Moi, Pierre Seel, deporté homosexuel, diz: "Nos campos, os homossexuais eram sujeitos às mesmas [relativamente aos outros prisioneiros] privações, brutalidade, trabalhos forçados e experiências médicas, mas o triângulo cor-de-rosa * que usavam, atraía o remoque e infligia sofrimentos ainda maiores. Por vezes eram atirados aos cães dos SS, que os despedaçavam em frente dos restantes detidos."
A maioria das experiências médicas a que eram submetidos consistia numa injecção de hormonas sintéticas ministrada na virilha direita com o suposto objectivo de curar a doença de que eram portadores: a homossexualidade. A consequência destas experiências pseudo-científicas era a morte de grande parte dos estrelas rosa.
Os mais novos eram vistos como mercadoria sexual para uso dos Kapos (Ver aqui) e dos prisioneiros criminosos, os que gozavam de maiores privilégios dentro dos campos. Jean-Michel Lecomte, no seu Ensinar o Holocausto no Século XXI, cita Aimé Spitz, deportado como preso político, mas também ele homossexual: "Um jovem alsaciano do departamento do Alto Reno era disputado por dois Kapos, todos os domingos, um deles dava-lhe uma tigela de sopa e outro um charuto. Em resultado do ciúme dos Kapos, foi enviado certa noite para a enfermaria para ser desinfectado; no dia seguinte foi encontrado morto. Tinham-lhe injectado petróleo nas veias. Tinha apenas 19 anos" (p. 81)


* À semelhança do que acontecia com os judeus, obrigados a usar uma estrela amarela
, também os homossexuais eram obrigados a usar uma estrela identificadora da sua condição de prisioneiros, a estrela cor-de-rosa.

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