Tinha características centro-europeias e vienenses, pois minha mãe era austríaca e o meu pai checo. Eu nasci e fui criado em Paris, porque em 1924 a família mudou-se para França. O meu pai, que tinha uma intuição política extraordinária, estava certo de que o desastre na Alemanha e na Áustria estava para vir.
Esse não foi o único momento em que a intuição do seu pai funcionou.
Não. De facto, em 1940, voltou a sentir perigo e tirou-nos de Paris. De outro modo teria sido demasiado tarde. Ele não teve qualquer dúvida de que os alemães viriam e de que a França seria provavelmente vencida. Estava em Nova Iorque e mandou-nos chamar, porque teve uma informação, na qual acreditou, de que a França seria ocupada em poucos meses. Saímos de Génova no último navio americano para Nova Iorque.
Foi por isso que, num ensaio dos anos 60, se definiu a si próprio como «uma espécie de sobrevivente»?
Sim, porque na minha escola em Paris, onde havia muitos judeus, só dois sobreviveram. Todos os outros foram mortos. Portanto, é um milagre ter sobrevivido.
E o que é ser um sobrevivente?
É complicado. Significa ter vergonha, perguntar-se: «porquê eu?», quando os outros morreram. E, por outro lado, significa ter ao longo da vida a obrigação de nunca esquecer.
Entrevista de Luciana Leiderfarb, «Revista do Expresso», 3/Junho/2017
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